segunda-feira, novembro 02, 2009

MORREU O POETA TELMORO

Mensagem do Eng. Tito Olívio, proferida na Homenagem ao Poeta Telmoro, na reunião-convívio do Elos Clube de Faro, em 30 de Outubro de 2009





Telmo Bernardes Silva nasceu em Lisboa, a 8 de Julho de 1940, e cedo se radicou na cidade do Porto, onde frequentou o ensino médio, no Liceu D. Manuel II. Em 1959 foi viver para Angola e aí cumpriu serviço militar, no início da guerra colonial, tendo ingressado nos quadros de investigação da Polícia Judiciária, em Luanda, em 1963. Já em 1975, na sequência do processo de descolonização, transitou para a Polícia Judiciária, em Lisboa, de onde foi destacado para a cidade de Faro, aquando da instalação do primeiro departamento regional continental, em Dezembro de 1976. Desde então serviu a instituição na capital do Algarve, onde se radicou e adoptou, definitivamente, como a sua cidade.
Em 1998 aposentou-se, dando por finda uma longa carreira de 36 anos. A recompensa do seu contributo à região algarvia e ao país está simbolizada por louvor público do Ministério da Justiça e do Governo, com a atribuição do Crachá de Prata. Após a aposentação e no espaço de lazer, alguns estímulos o fizeram despertar para a poesia, que inclusivamente compõe em castelhano, francês e italiano. Tinha como nome artístico Telmoro, que advém da forma contracta do seu nome próprio com a expressão mourisca do seu facies, aliado ao facto de habitar na região algarvia.
Escreveu também letras para canções, sendo conhecido no mundo da noite por «Poeta do Fado». Boémio e amante do fado, também cantava.
Foi também membro e colaborador da Secção “Poesia Sumo Da Alma”, no Sanzalangola, numa comunidade cibernética que integra cerca de 6.000 indivíduos, radicados nos quatro cantos do mundo, onde os seus poemas são divulgados.
Colaborou com poemas em português e castelhano, em várias publicações, nomeadamente no jornal “Poetas & Trovadores” e na revista Ayamontina "El Alba".
Participou em alguns encontros de Canto e Poesia, em Portugal e Espanha, como autor e intérprete.
Publicou dois livros de poemas, “Cor nas Palavras” (2001) e “Idílios da Madrugada” (2005). Está representado em diversas antologias.
Era membro da AJEA-Associação dos Jornalistas e Escritores do Algarve e frequentador assíduo da Tertúlia da Hélice.
Alguns poemas mais conhecidos:

NATAL NO CÁRCERE

Visitei-te na cela nua e fria,
Na noite de Dezembro mais sagrada,
Tentando libertar-te, em poesia,
Da dor da tua alma encarcerada.

Falámos de Natal, do Deus Menino,
Dessa mãe que tiveste e já partiu
E chorámos os dois o seu destino,
Na ânsia de te ver, mas não te viu.

Sonhámos os teus sonhos, sonhador,
E perguntei, no adeus, a sós contigo:
Que prendas vais querer, nesse postigo?

E tu ergueste a fronte, sem fulgor,
Respondendo, em soluços, bem baixinho:
A liberdade, pai, e o teu carinho!


MAGIA DO DESERTO

Nesse caminho, deserto,
Onde o sol queima mais perto,
Percorri todo o terreno,
Entre coragens e medos,
Escondidos nos segredos
Dos meus sonhos de pequeno.

Nesse caminho, abrasante,
Cinquenta graus, escaldante,
Espraiei minha miragem
De meninos, horizontes,
Que nos surgiam aos montes,
Interrompendo a viagem,

Numa corrida veloz,
Ofegantes, até nós,
Incansáveis no correr,
Vendendo sorrisos ledos,
A troco de alguns brinquedos
E de lápis de escrever.


À MUSA MAIS DILECTA

Às musas que iluminaram
Meus trilhos da poesia
E que tanto me inspiraram,
Em madrugadas de orgia;

Àquelas que perfumaram
Meus jardins de fantasia
E com brilho marchetaram
Estrelas até ser dia;

Eu desejo agradecer,
Neste soneto que escrevo,
Em homenagem discreta,

E não é justo eleger
Qual de todas - não me atrevo -
Me faz sentir mais poeta.


A ÚLTIMA MENSAGEM

Deixaste-me um bilhete na partida,
Escrito com a dor no coração,
Pedindo ao mesmo tempo o meu perdão,
Prà tua impaciência desmedida.

E a mensagem colhi de alma perdida
Como fosse prenúncio de um trovão,
Pois juravas com toda a emoção,
Amar-me até ao fim da tua vida.

E a vida que restou foi por um dia!
Jamais imaginava esta ironia
Gravado para sempre, em pensamento.

Agora rogo a Deus, amargurado,
Pra que o teu juramento mais sagrado,
Ajude a minorar meu sofrimento.


CIÚMES

Tive ciúmes do sonho,
Que me contaste outro dia,
De dizer não me envergonho,
Até parece utopia.

É que o teu sonho risonho,
Me provocou nostalgia
E me deixou tão tristonho
Com minha ausência vazia!

Afinal nesses ensejos,
Quem partilhou teus desejos,
A par das tuas mentiras?

Na próxima vez não contes,
Ciúmes, tenho eu aos montes
Até do ar que respiras.

Faro, 30 de Outubro de 2009