sexta-feira, julho 28, 2006

Em defesa da Língua e da Cultura Lusíada

03/JUL/2006

Da Presidência de Elos Internacional - Portugal

Em defesa da Língua e da Cultura Lusíada

É lugar comum afirmar-se que a maior riqueza de um país consiste nas suas potencialidades culturais, no duplo aspecto de realização do passado e de capacidade de continuação no futuro.

E como escreveu Levi.Strauss "cada cultura desenvolve-se graças ás trocas com outras culturas. Mas é necessário que cada uma ponha nisso uma certa resistência, senão muito depressa não terá mais que lhe pertença e possa dar em troca. A ausência e o excesso de comunicação têm uma e outra o seu perigo.

Será por isso necessário que cada cultura saiba criar raízes e manter-se fiel a elas, raízes que são e estão no seu passado mas são também o presente e o futuro. As culturas que morrem são justamente aquelas que perderam a memória do passado e ao perdê-la perderam a sua própria identidade, deixaram-se confundir ou integraram-se noutras.

O conteúdo da identidade de um grupo, de um povo, de uma nação ou de uma comunidade de povos ou de nações e até a identidade da própria pessoa humana comporta sempre fatores, designadamente os relacionados com todo o seu passado, seu e dos seus antepassados, os seus códigos culturais, as suas ideologias, os valores defendidos e vividos, a literatura, a filosofia, os hábitos coletivos, a maneira de ser e de estar no mundo e fundamentalmente o seu idioma, o seu modo habitual de se expressar e de comunicar com os outros, seja oralmente seja através da escrita.

O sucesso da epopéia portuguesa de quinhentos em busca de outras terras desconhecidas e de contacto com outros povos e outras gentes, dilatando a fé e o império, permitiu que a língua portuguesa por todos falada no pequeno retângulo europeu desde o reinado de El-Rei D. Diniz, passasse a ser aprendida e falada pelos quatro cantos do mundo, e fosse mesmo, durante largas dezenas de anos e por toda a parte, a língua mais utilizada nas trocas comerciais.

Na sua aventura por mares nunca dantes navegados, descobriram os portugueses as terras de Santa Cruz e contataram desde logo com os aborígenes que aí encontraram; e aí fizeram nascer algo de novo, construindo essa grande nação que é o Brasil. Repito e acentuo, construíram o Brasil, não o descobriram, não o conquistaram nem o invadiram, pela simples razão de que até então não existia. O Brasil como Nação e até como Estado, resultou portanto e apenas a partir da chegada e da fixação dos portugueses nessas terras do novo continente.

E podem os brasileiros ufanar-se de que nunca viveram sob domínio estrangeiro, salvo quando por mero acidente histórico, franceses e holandeses, nessa altura peritos em pirataria, lá estiveram por algum tempo em certos locais.
Até 1822, os habitantes do Brasil, foram tanto portugueses quanto hoje o somos nós.

E o que aconteceu com o Brasil; aconteceu semelhantemente com Angola, com Moçambique, com a Guiné, com S. Tomé e Príncipe, e Cabo Verde ou mesmo com Timor, países que até à chegada dos portugueses não existiam e que até alguns deles como Cabo Verde e S. Tomé, eram terra virgem sem qualquer vestígio de presença humana.

Pois bem, se os portugueses ao criarem essas Nações levaram consigo a sua maneira de ser e de estar no mundo, os seus valores, a sua tolerância, o seu pluralismo racial, a sua ânsia de desenvolvimento econômico, cultural e social e principalmente religioso, levaram também sua língua e conseguiram que fosse ela a principal força, a dura e eficiente argamassa que permitiu aglutinar e dar identidade cultural a povos que até então a não possuíam.

O mundo da língua portuguesa composto atualmente por diversas nações, será assim um mundo de cultura e de desenvolvimento, um espaço de esperança no futuro, se todos nós, os que falamos a língua de Camões, desde o Minho até Timor, tanto nos chamados países de língua oficial portuguesa, como em todos os demais locais em que ainda é continuará a ser falada, como sejam algumas ilhas das Filipinas, em Goa, Damão e Diu e no Ceilão hoje Sri Lanka, e até por algumas etnias na Polinésia e em África, repito, se todos nós formos capazes de nos unir, encontrar idéias e soubermos mobilizar-nos na defesa dos valores comuns em prole do desenvolvimento em todos os seus aspecto, cultural, econômico, social, político e mesmo religioso

"É a falar que a gente se entende", diz o nosso povo, e porque falamos a mesma língua, temos que nos entender uns com os outros e é entendendo-nos que melhor podemos realizar e atingir os nossos objetivos pessoais e coletivos.

A isso se chama ou poderá chamar-se "Lusófona", essa grande família que tem em comum uma idêntica civilização e está interligada através da língua que todos nós falamos, língua que é atualmente o sexto idioma mais falado no mundo e que só somando, unindo todos os países que se expressam em português, será possível resistir a tempos da tão apregoada globalização, mundialização ou americanização ou unificação de culturas, com conseqüente perda da nossa identidade de pessoas e de nações.

Tendo em vista estes objetivos, temos a obrigação histórica de defender e difundir e até impor a língua portuguesa e de impulsionar e manter apertados laços culturais de amizade e de cooperação entre todos os povos e comunidades que pensam, falam e escrevem na língua de Camões.

Alcindo Costa
Presidente do Elos Internacional da Comunidade Lusíada

Fonte: Jornal Mundo Lusíada http://www.mundolusiada.com.br/