Artigo de Opinião - ALGARVE OU ALLGARVE ?
ALGARVE OU ALLGARVE ?
Mas basta!
Hoje, para o bem e para o mal, somos anfitriões do bom e do mau turismo. Mas antes de sermos um destino turístico somos uma região com identidade própria, com história e património. E se alguém duvida, por certo são aqueles que se preocupam apenas em vender o Algarve como um produto.
Se Allgarve tinha como objectivo tornar-se mais apelativo ao turismo de língua inglesa, então parece-me uma campanha sem sentido porque há muito que os turistas ingleses conhecem e apreciam o Algarve, aliás, antes de o descobrirem como destino turístico já cá tinham estado com outros objectivos.
Existem duas perspectivas do Algarve: visto por dentro e por quem cá vive e a perspectiva do turista. Tornou-se até moda falar mal do Algarve, não sem antes ter cá passado as melhores férias da sua vida. Existem até duas versões: quando partem de férias para o Algarve enchem o peito de ar e afirmam com orgulho: vou de férias para o Algarve! De regresso, angustiados por voltarem à vida de sempre e terminado o sonho, enchem-se de razões e debitam as mais ferozes críticas.
Não sei se será masoquismo... mas na próxima oportunidade aí vão eles “de malas e bagagens” para o Algarve (alguns até chegam a comprar casa...).
A única “campanha” de que precisamos é pelo respeito a uma identidade que não queremos perder. Pelo direito ao respeito pela especificidade e pelo direito de sermos considerados portugueses de pleno direito.
Parece-me pertinente colocar a questão da adulteração do nome Algarve que, sendo
Coloca-se ainda outra questão igualmente pertinente: a adulteração da Língua Portuguesa.
Segundo os mentores desta “campanha”, é mais apelativo o Algarve com sotaque inglês do que na sua língua original. Razão tinha Eça de Queiroz quando afirmava que “falava inglês orgulhosamente mal”.
E para os que andam mais distraídos, devo lembrar que, há uns anos a esta parte, muito se criticaram os empresários algarvios, na área da indústria hoteleira, sobretudo, pelo uso e abuso da língua inglesa (nas ementas, na publicidade, etc.). Foram precisos alguns anos, muitas campanhas de sensibilização e acima de tudo muito bom senso para alterar esta situação. Creio até que foi produzida legislação nesse sentido.
Sempre ouvi dizer que errar é humano mas persistir no erro é desumano!
Mas pior do que errar é não corrigir o erro e pior que tudo isto é o silêncio dos algarvios e daqueles que por força das suas funções têm o dever de defender e proteger o interesse e a dignidade dos algarvios. Poucas (mas significativas) vozes se levantaram para denunciar esta pérfida campanha. No entanto, quando abordo o assunto, todos são unânimes na sua indignação. Não há um algarvio que se preze que não se sinta insultado.
Este é o produto de uma sociedade que ainda precisa de interiorizar e exercer o seu direito de cidadania. Levantam-se as vozes quando falta o emprego, quando faltam as condições de saúde e de educação (e bem!) mas calam-se as mesmas vozes quando estão em causa princípios e valores como a dignidade, o respeito, a soberania...
É tão importante lutar pelo pão como pela dignidade. Por isso a sábia frase : “nem só de pão viverá o homem...”
A sociedade evolui, modifica-se, transforma-se. Mas os valores e princípios devem permanecer imutáveis. E é por esses mesmos valores que vale a pena pautar a nossa vida e a nossa conduta.
O Algarve é e será sempre um símbolo de identidade cultural. Património de um povo. Enquanto portuguesa e algarvia assiste-me o direito de respeito pela terra onde tive o privilégio de nascer.
Dina Lapa de Campos
Nota: Devo ainda acrescentar que escrevi 15 vezes a palavra Algarve ao longo deste artigo. Devo esclarecer que não tive qualquer preocupação estilística e também não me preocupei em evitar tal repetição. Este reparo destina-se apenas a prevenir o ataque de algum filologista mais preocupado com o estilo do que com o conteúdo)
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