segunda-feira, novembro 21, 2005

OS SONHOS DO EMIGRANTE PORTUGUÊS POR EDUARDO NEVES MOREIRA


OS SONHOS DO EMIGRANTE PORTUGUÊS

Os primeiros sonhos são os que antecedem a partida e a expectativa de um nova vida, um novo desafio, a conquista dos objectivos que povoam o seu imaginário. Há uma grande expectativa sobre as novas terras, as pessoas que vai encontrar, os costumes e a dificuldade com a língua do país de acolhimento, mas tudo se supera com o espírito guerreiro de conquistar uma vida melhor e a sua vontade de vencer.

Com o passar do tempo, as emoções que o coração do emigrante reflectem, remontam de uma saudade que provém dos primeiros anos de sua vida e que lhe ensinaram a forma de estar no mundo, vínculo maior do seu portuguesismo. Depois, afastado da terra e dos seus, tendo tido oportunidade de conhecer novas terras e outros povos, sua vida foisendo acrescida dessas culturas que lhe adicionaram traços indeléveisà sua formação, reconhecendo-se sempre nas suas origens sempre que temoportunidade de contacto com objectos, pessoas e imagens do seu Portugal.

Seja pela aproximação a outros emigrantes que, como ele, encontram-sedistantes da pátria mas mantendo a sua presença lusíada irretocável,seja pela audição ou visualização das músicas, paisagens ou traços fisionómicos, religiosos, culturais e até pelos da arquitetctura que lhe é familiar, tudo o faz lembrar a terra que ficou distante mas que não abandona a sua mente. A presença de Portugal o emociona em cada oportunidade que se lhe oferece e quando sente esse entrelaçamento chega a estremeçer, criando-lhe um indescritível desejo de voltar. Ele sabe que esse sonho nem sempre é possível, mas que sempre que o realiza, renova-se como ser humano, mesmo que esse reencontro restrinja-se apenas a alguns dias que, quando surgem, parecem correr numa velocidade muito superior aos ponteiros do relógio, impedindo-o de satisfazer todo a vontade de deambular pelos espaços da sua cultura eda nação que lhe deu a vida. O regresso ao o país de acolhimento, certamente, fá-lo confrontado com o desejo de nova e enriquecedor a visita a Portugal, com novas descobertas e com novo encontro consigo mesmo.

Quando, entretanto, a vida lhe proporciona a oportunidade de regressar e voltar a conviver com o seu povo, o desafio ainda é maior.O relacionamento quotidiano com o povo de seu país, mas do qual esteve afastado por tantos anos ou mesmo décadas , impõe-lhe a necessidadede readaptação, uma revisão de muitos conceitos e costumes que absorveu no país de acolhimento, superados pela sua capacidade de integração da qual já deu provas quando emigrou.
Enfim, o emigrante português, acumula em sua vida, uma imensa capacidade de adaptação às sociedades que o acolhem, integrando-se de forma admirável, mas mantendo durante toda a sua vida uma vontade marcante de voltar, de rever os caminhos, os traços culturais e sentir o sentimento do povo da terra que o viu nascer e partir para o mundo, esperando por um regresso que na maioria dos casos não se concretizamas que o faz, em frequentes sonhos, viver na sociedade da qual nunca desejou deixar, mas que o futuro, quase sempre, não transforma em realidade.

Na maioria dos casos, quando o esperado regresso não ocorre, resta-lhe a esperança de se ver reconhecido pelos seus compatriotas, de se sentir, ainda que afastado fisicamente, integrado na nação portuguesa, de poder transmitir um pouco desse seu amor a Portugal a seus filhos e para isso sonha com um atendimento condigno nos orgãos públicos colocados à sua disposição, com a facilidade de obtenção dos seus documentos nacionais, com a facilidade de acesso à língua portuguesa e com uma legislação coerente com a realidade da nação portuguesa, como pátria peregrina, criadora de novos mundos e formação de novos povos, no qual o emigrante surge como o elo mais forte dessa globalização. Enfim, como já disse o poeta que "o homem sonha e a obra nasce", só nos resta esperar que num dia bem próximo, os sonhos, desse imigrante possam-se transformar em realidade.
Eduardo Artur Neves Moreira Titular da Cadeira nº 34 da Academia Luso-Brasileira de LetrasMarço de 2005

in Emigração - Em Defesa dos Portugueses no Estrangeiro por EduradoNeves Moreira - Rio de Janeiro 2005 - ISBN: 85-85610-27-1