O ELISMO E OS DESCOBRIMENTOS POR DIAMANTINO D. BALTAZAR
«A língua é a casa do ser»
(Heidegger)
Os Portugueses de Quinhentos são actualmente lembrados por feitos ímpares
na História do nosso mundo.
Muitos anos nos separam desse tempo, mas a nossa vontade de preservar a
memória das glórias do Portugal de então é sempre maior em cada século que passa.
Em cada comemoração aprofunda-se a tomada de consciência dos feitos passados e
enraiza-se passo a passo no Universo da LínguaPortuguesa, a Comunidade Lusíada,
a ideia que a grandeza da saga das descobertas vai muito para além das razões da
conquista ou da edificação de um Império.
O reviver do nosso passado, posto em evidência nesta década de comemorações, não
por espírito de emulação mas por vontade própria, espelha o nosso inconsciente
colectivo. No lembrar a História vai-se intuindo que há muito por descobrir nas próprias descobertas de Quinhentos, e que para o fazer é preciso que a memória da Comunidade
se alongue até um Novo Tempo.
Há secretos desígnios nos actos da História dos Homens e dos Povos, que só no futuro se
revelam em toda a sua plenitude.
Quinhentos anos atrás a Nação Portuguesa era já massa e fermento de uma civilização.
Aqui, povos das mais variadas origens foram caldeados durante séculos, ora de modo
guerreiro ora de modo pacífico, até à criação de uma entidade geográfica, cultural e
linguística. Fomos assim nesse processo histórico recebedores e transformadores das
culturas que a esta terra aportaram veiculadas por visitantes e conquistadores oriundos
de paragens distantes.
Exemplarmente, da raíz judaico-cristã vingou em nós a mensagem de Cristo e da
raiz greco-romana vingou em nós a latinidade, coisas comuns a outros povos.
Porém de tudo isto floresceu na nossa terra e noutras distantes algo ímpar, como um
traço de carácter, a que chamamos hoje a Lusitanidade. Nascida provavelmente pela
vontade de devolver ao mundo o legado civilizacional recebido do mundo mas já
fermentado pelo nosso ser particular, é algo que nos distingue.
Conforme o Novo Tempo se aproxima, desfazem-se os Impérios. Só de alguns persiste
o que misteriosamente o tempo decantou como coisas que aproveitam a espiritualização do Homem. Esse ser que reside na casa que é a língua portuguesa e que é a essência da
Lusitanidade adivinha-se participante maior dessa transfiguração do primado do
mundano.
As comemorações dos feitos marítimos dos nossos heróis do passado já não devem por
isso ser entendidas somente como um acto de auto-glorificação de um povo, pois elas
são cada vez mais a festa do carisma Lusíada e de sua particpação no curso espiritual da humanidade.
O Elos nasceu da rara inspiração e vontade de alguns homens bons e cresceu em várias
décadas, com a persistência e o sacrifício dos que abraçaram o ideal de revelar e manter
viva a força carismática da Comunidade Lusíada. Tomou nas suas mãos a gratificante
cruzada de apetrechar essa nau que avança agora para a descoberta de outras paragens,
onde residem os elevados valores do espírito.
O Elismo não é cavaleiro solitário nessa cruzada, mas como pioneiro desta nova saga,
assumiu o dever de manter viva a chama da Lusitanidade, construtora da vida onde impera
o amor pelo próximo, epor isso compaixão, e a solidariedade humanas.
Os Elistas, assumiram o compromisso de defender os valores que são aalma da Comunidade Lusíada, nascida dos descobrimentos de quinhentos, e estão-no fazendo com elevado empenho.
Alegram-se os elistas nesta data de festa com o sentimento e a consciência de participarem
na construção do futuro de um mundo onde se gostará de viver.
Dimantino D. Baltazar
in Editorial da Revista do Elos Internacional, Janeiro de 1992
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