quarta-feira, setembro 21, 2005

SER PORTUGUÊS - PRÉMIO REVELAÇÃO DO CONCURSO LITERÁRIO DO ELOS CLUBE DE FARO 2005 - JOVENS AUTORES


PRÉMIO REVELAÇÃO DO CONCURSO LITERÁRIO DO ELOS CLUBE DE FARO
JOVENS AUTORES 2005

SER PORTUGÛES

Foste português, foste herói, foste um sábio que vagueou pelo mundo e
nos deixou um pouco de si.

Tinhas olhos castanhos e cabelos negros, aspecto de velhinho e um
visual pouco cuidado.

Conheci-te num aeroporto estrangeiro, quando eu, ainda frágil e
insegura menina tentava encontrar a porta de embarque.

Estava perdida, apetecia-me chorar tal como uma criancinha. Que faria
agora?
Sozinha, num país estrangeiro, com uma língua desconhecida. Certamente
experimentaria o sabor do desconhecido naquela tarde. Subitamente uma
voz entrou no meu ouvido, uma voz suave, que entoou não apenas no meu
aparelho auditivo mas também no meu coração. Alguém falara português. Ali
naquele lugar desconhecido, no aeroporto onde já derramara algumas da minhas
lágrimas, subitamente alguém falara português. Foste uma luz que
iluminou o meu dia, uma alegria que com palavras seria impossível de explicar.
Enquanto milhares e milhares de pessoas se dirigiam às portas de embarque
entoando as mais diversas línguas, para ti parecia que o mundo havia parado
à tua volta.

Falavas sozinho, na nossa bonita língua , com um atabalhoado mas no
entanto mais sábio do alguma vez imaginara.

Aproximei-me de ti. Parecias brincar com as palavras, parecias feliz,
sorrias, sorrias, sorrias, havias de sorrir até que a morte te levasse.
Reparei que falavas com um grupo de jovens estrangeiros, mas, como
poderia ser? Afinal estavas a falar português... Pois, lá estavas tu, sempre a
sorrir, a exibir a nossa língua a mostrar-lhe o orgulho de ser português.

Eles, atónitos, olhavam-te com admiração e incerteza, na verdade,
daquilo que dizias nada compreendiam mas o teu olhar e a tua forma de falar
cativaram-nos e mesmo sem saber nada de ti continuaram a olhar-te
atenciosamente.

Fitaste-me com alegria, falaste também para mim. Tinhas uma voz doce,
contavas a um par de jovens algumas histórias típicas do nosso país.

Falavas de literatura, de história, de arte. E naquela imensidão de pessoas,
apenas eu poderia entender-te.

No teu rosto levemente desenhado havia o português dos nossos dias.

Havia o sábio, o sonhador, o herói que partiu em busca do desconhecido
conquistando tudo e todos.

Tu não eras como os outros. Não tinhas vergonha, não tinhas medo de ser
português... Enquanto eles escondiam a sua língua por detrás de um inglês
vergonhoso tu exibiste-a sem pudor, mostrando ao mundo que neste
pequeno cantinho vive um povo de imensa dignidade.

Ouvi-te durante horas, ouvi-te perante o barulho que misteriosamente se
transformara em silêncio para ouvir as bonitas palavras que te saíam
dos encarnados lábios.

« Nós, os portugueses, somos seres bonitos. Na nossa terra acolhemos
todos aqueles que queiram visitá-la, do nosso alimento faremos o dos outros
e com a nossa água mataremos a sede alheia. Somos um pequeno pontinha perdido
no imenso mapa do mundo, mas somos um pontinho mais importante do que
muitas manchas que cobrem esse atlas universal. Nós, portugueses, estamos em
todas as partes do mundo. A viagem sempre fez parte do nosso espírito, da
nossa alma enquanto cidadãos lusos. Aprendemos a viajar e a conquistar , a
sonhar ir mais além. Ser português é motivo de honra. Porque somos nós que
corremos mesmo quando todos decidem ficar parados, porque nos molhamo-nos
quando todos buscam um abrigo, porque nós ousamos viver mesmo quando a
iminência da morte está perto demais.».

Tinhas razão, meu velho. Eu tenho orgulho por ser das tuas gentes,
partilhar as alegrias do nosso povo, as nossas tradições, as nossas loucuras,
os traços característicos da nossa espécie.

A espera tornara-se longa nesse aeroporto algures na Europa, os outros
abandonaram-te mas eu não. Precisava de ti.
Partilhámos ambos a alegria de termos nascido nesse tão lindo país da
Península Ibérica, e tu, como farol sempre pronto a iluminar-me
mostraste-me a porta de embarque, e como se isso não bastasse, viajaste
comigo para este cantinho do mundo - Portugal.

Afinal era tão bom ser português...

Recordámos Luso , o brilhante Deus do Olimpo que deu nome às nossas
gentes, viajámos com Luís de Camões e a sua poesia única, pousamos por
momentos 4nossos olhos nos heróis portugueses que um dia nos fizeram
orgulharmo-nos deles.

Também eu me orgulho de ti , meu velho. Da sabedoria que transmitias ao
mundo, da abertura e alegria com que deste a conhecer o nosso país a
milhares de pessoas que conheceste.

Orgulho-me de teres sido o bom português: O que deixa tudo para o
último momento, o que brilha, o que sorri, o que chora e o que transporta
todo o seu talento para o palco da vida.

O Português que tal como dizias está em todas as partes do mundo.
A mensagem que nos deixaste ainda persiste, ainda vive nos nosso
corações, nos olhares daqueles que escutaram atenciosamente tudo o que olhes
disseste. Obrigado, meu velho. Porque tu foste português, porque lutaste na
guerra e venceste, porque te encarregaste sempre de limpar o nome do nosso
país enquanto outros o mancharam. Obrigado por nunca, em nenhuma parte do
mundo, teres tido vergonha de seres português.

Honraste-nos, fizeste-nos unirmo-nos em defesa daquilo que amamos e
hoje cantamos juntos a nossa glória. A glória de uma país que jamais
morrerá, a glória dos brilhantes antepassados e a alegria do meninos que
construirão neste “cantinho” inigualável um futuro risonho.

Autora: Isa Mestre