"Da minha língua vê-se o mar" por Filipa Silva
“Da minha língua vê-se o mar”
Sim e impiamente
Poder mirar a rutilante volta do mar
Talvez vaguear no teu eloquente olhar
De ondas vocabulares cristalinas
Porque são tempos que augurem o espaço
E a memória de naufragar,
Sem interstícios de um vácuo da
Maré linguística que levaste contigo
Para lugares ocultos da saudade,
Do fado que tens ao peito
Gritando pela liberdade de viajar
E nem em caravelas de indómitos
Sabores de metáforas submarinas,
Te deixaste anoitecer,
Língua minha
Corpo movente que te propagas
Na densidade líquida da metamorfose
Calma dos dias
E apartas-te numa aventura de séculos
Carcomidos pela história erudita
Daquilo que vivencialmente infundes
Na verborreia das tuas correntes lusas.
É o sal que tens preso à voz
E te impele ao revivalismo
Que repercutes,
E mesmo assim venero-te as mãos
Cansadas de escrever para exorcizar
Esse mar levantado e fervente que de tanto saudares
Já faz parte de ti.
3º PRÉMIO III Escalão do Concurso Literário Elos Clube de Faro - Jovens Autores 2006
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